Se, como nós, você também adora descobrir mais e mais sobre a nossa bebida preferida, talvez já tenha andado por aí atrás de curiosidades deste universo, certo? Mas e sobre a História do Vinho no Brasil? Será que você conhece tudo?
Bem, a gente acha que é difícil conhecer todos os detalhes. No entanto, visualizar o que os especialistas e os livros contam é delicioso, tal qual uma boa taça de San Severo!
O que você vai ver neste artigo é um breve apanhado proposto pela empresária e especialista Delci Werle.
É claro que riquezas de detalhes conseguimos obter nos livros de tantos bons autores na atualidade. Entretanto, para um bom começo de conversa, achamos que você vai gostar do que vai ler aqui, embora algumas partes talvez causem um pouco de incredulidade. Mas… tá na história!
Vamos aos fatos? Boa leitura!
Como tudo começou…
Em 1532, chegaram as primeiras mudas de uvas ao Brasil, ou seja, 32 anos após o descobrimento do país. As caravelas param no nordeste, precisamente em Porto Seguro, Bahia.
Aos poucos, os exploradores vão povoando as regiões e se direcionando pela costa em direção ao sul. Quando chegam ao litoral São Paulo, encontram um clima mais ameno e não tão quente quanto lá no nordeste.
Então, decidem testar a produção de uva para vitivinicultura com mudas europeias. Sabemos que a uva é uma fruta de estação e amadurece no verão. Logo, ela precisa da alternância das estações para ter o ciclo da videira regulado pela natureza/clima com o passar dos meses.
Mas o resultado não é bom. Infelizmente, esta iniciativa não vai adiante porque o terroir desta porção do Brasil à época não era adequada para vitivinicultura, também pelo fato de que não se tinha domínio das técnicas que se conhece hoje para o manejo das videiras em clima moderado quente.
Temos então o marco da chegada das mudas, mas não o início da vitivinicultura.
Brás Cubas é personagem central na História do Vinho no Brasil
Diante dos fatos, alguém não fica nada contente. Brás Cubas, fidalgo e explorador português membro da expedição de 1532, não se convence de que não era possível cultivar uvas para a elaboração de vinhos neste terroir novo.
Então em 1551, ele faz uma nova tentativa, desta vez no interior de São Paulo, insistindo na vitivinicultura e elaborando finalmente o primeiro vinho no Brasil. Isso se dá aproximadamente 20 anos após a chegada das primeiras mudas.
Desde então, esta cultura vai se espalhando aos poucos pelo Brasil. Não podemos esquecer que estávamos numa época em que a igreja tinha um peso gigantesco na sociedade. E, claro, uma boa missa depende de um gole de vinho.
A partir de então, começa a se fazer necessário o cultivo da videira nestas novas terras. Justamente pelas mãos de ordem religiosa, os vinhos começam a se espalhar de maneira mais sistemática.
O primeiro vinho no Rio Grande do Sul
Em 1626, ou seja, 74 anos depois, o Padre Roque González de Santa Cruz (foto acima), na região dos jesuítas das Missões, elabora o primeiro vinho no Rio Grande do Sul. Não à toa, atualmente, o território gaúcho é reconhecido como o maior produtor de vinho do Brasil, respondendo por 90% da produção do país.
A partir daí esta indústria começa a se consolidar no Brasil, claro, dentro de uma produção super artesanal, comunitária e visando atender aos pequenos povoados e empresas familiares.
A produção do vinho vai se espalhando, quando, em um dado momento, começa a chamar a atenção de Portugal…
Portugueses de olho na produção de vinho brasileira
Em 1789, isto é, 275 anos mais tarde, a coroa portuguesa sabendo destas iniciativas de vitivinicultura no Brasil, diz: “Acabou esta história, quem faz vinhos por aqui somos nós! Quem tem a missão de abastecer os vinhos no Brasil somos nós!” Então, ela proíbe a elaboração de vinhos no Brasil. Triste, não é mesmo? Mas essa história não ia acabar assim.
Os portugueses não contavam com o avanço das tropas de Napoleão, que começam a tomar boa parte da Europa, com apoio de outros países, incluindo a Espanha. Então, em 1808, prevendo a chegada de tropas napoleônicas a Portugal, a coroa portuguesa junta tudo e foge para o Brasil.
No entanto, os lusitanos preveem que faltaria vinho, uma vez que os que traziam na mala não seriam suficientes. Assim, 19 anos depois, começaram a liberar a produção de vinhos no Brasil. Temos então, em 1808, a retomada.
Um inglês entra na história (e com ele, uvas conhecidas)
Abre-se um novo capítulo na História do Vinho no Brasil. Mais tarde, 32 anos após a retomada (já estamos falando de 1840), acontece um novo marco. O inglês Thomas Master chega à Região Metropolitana de Porto Alegre. Em sua mala, trazia mudas de uvas não viníferas, mas variedades híbridas e americanas.
Assim, ele compara as uvas e vende a seguinte ideia para os colonos: “Esta uva de fato é diferente da uva vinífera/europeia, a polpa é mais fina, é mais suculenta, o vinho dela não é tão bom, não tem tantos taninos. Tudo é mais diluído, não tem tanta concentração de açúcar, acidez. Por outro lado, ela é muito resistente a doenças e bastante produtiva. Vocês vão levar menos tempo combatendo doenças e mais tempo colhendo”.
Qual você acha que foi o resultado? Bingo!
Rapidamente, esta cultura de variedades híbridas e americanas e não europeias se espalha pelo nosso país. Até hoje temos uma predominância de produção de vinhos de mesa, que começa exatamente neste marco, em 1840. Tinha início a notoriedade das uvas Bordô, Isabel, Concord e Niágara (foto).
E quanto aos italianos?
Em 1875, chegam os italianos ao Brasil. Humildes, foram praticamente expulsos da Itália, a partir do discurso: “Aqui (na Itália) a situação está difícil, mas cruzando o oceano tem uma terra mágica que basicamente vai suprir vocês de todas as necessidades. Vocês vão ganhar terras, ferramentas para o trabalho, escolas para as crianças e ainda um dinheiro para começar a vida”.
O discurso era maravilhoso, mas a realidade… quando os colonos chegam, veem que foram enganados. Dispara, então, o empreendedorismo italiano, hoje um marco da Serra Gaúcha.
Além de explorarem um terroir mais adequado para a uva, os italianos trouxeram uma cultura de vinhos especialmente porque precisavam da bebida, em decorrência de seus hábitos e origens. É por isso que hoje o modelo predominante de negócios da Serra Gaúcha é o de pequenas empresas familiares. É justamente esta a origem do vinho do Brasil.
Já nos anos 90…
Até a década de 90, a economia no Brasil era fechada e não tínhamos acesso a vinho importado, somente o nacional. Aliás, vale ressaltar que quem tinha acesso a vinho importado o trazia de viagens (privilégio dos mais ricos).
O produtor brasileiro sabia que o vinho não tinha tanta qualidade e complexidade como os importados, mas era o que tinha disponível para ser degustado.
Fernando Collor, presidente do Brasil de 1990 a 1992, abriu a economia. Produtores brasileiros logo percebem um número grande de vinhos importados chegando. Com isso, precisaram reagir rapidamente.
Esta abertura econômica também permitiu a importação de maquinário. Os vinhos começam a melhorar a qualidade com máquinas mais tecnológicas e referências de vinhos bons, como novos parâmetros de qualidade. Começam as primeiras participações de vinícolas brasileiras em feiras internacionais. Porém, continuamos com um problema, porque o público de vinhos segue sendo formado por uma elite, que não aprecia o vinho brasileiro.
Desta época, ainda vemos muitos influenciadores do universo dos vinhos. E como eles se tornaram formadores de opinião? Provavelmente por conta de viagens ao exterior, com as bebidas trazidas nas bagagens, conforme dissemos aqui.
A crítica ao vinho brasileiro ainda hoje segue muito por conta deste pensamento dos anos 90: “Entre um vinho importado e um brasileiro? Fico com o importado”. Infelizmente, trata-se de um estigma a ser quebrado. Mesmo porque quem fala que vinho brasileiro está aquém não conhece os rótulos nacionais verdadeiramente. E se ainda tem preconceito, está na hora que degustar e provar novos sabores!
Presente e futuro do mercado brasileiro de vinhos
Para finalizar a História do Vinho no Brasil, precisamos falar também sobre os tempos atuais.
Dê uma olhadinha neste vapt vupt do panorama de hoje do mercado brasileiro de vinhos:
- Atualmente, o Brasil ocupa 13º mercado em volume e 21º em consumo de vinho
- Comparação do primeiro trimestre de 2021 em relação ao mesmo período em 2020: aumento de 18,3% do consumo no Brasil
- Consumo brasileiro subiu de 2,12 para 2,60 litros per capita
- Consumidores do Brasil buscam novidades, rótulos diferentes e querem provar uvas novas
- Buscam pelo único, vinhos diferentes e com personalidade.
- Vemos neste universo a “Síndrome da caça ao tesouro”, isto é, consumidores cansaram de beber sempre os mesmos vinhos e variedades de uvas. São agora exploradores de novos mercados, buscam cada vez mais experiências diferentes e únicas. Adquirem vinhos que tragam algo novo e acrescentam na bagagem. Vinhos que contam uma história!
E aí, o que achou do nosso resumão sobre a História do Vinho no Brasil? Que outros fatos você acrescentaria? Conte pra gente!